As vantagens de ser invisível

Na adolescência, o sentimento de inadequação muitas vezes se origina de pressupostos idealizados acerca da realidade: aquela sensação de se manter às margens porque os olhos que se voltam ao redor estão enviesados. Em um mundo cercado por “vencedores”, seremos os “losers”, os perdedores, se nosso comportamento não estiver de acordo com as regras ditadas pelos que “conhecem” a moda, pelos que tem o “corpo perfeito”, o sorriso perfeito, pelos que estão “enturmados”. Época paradoxal:  por um lado, uma espécie de inconformismo passivo – ansiamos por integrarmo-nos neste grupo específico; por outro,  inconformismo ativo, idealizado, e ansioso para pertencer a outro grupo que não este, mais próximo – pela percepção de ser “carta fora do baralho”. Conformar-se ou não, no fundo, é questão de achar-se ou não entre seus iguais: na sociedade contemporânea, mais do que nunca, acredita-se que é pela comparação aos outros que alguém encontra seu lugar. É assim com Charlie (Logan Lerman), leitor voraz, prestes a iniciar o ensino médio após a perda de seu melhor amigo, marcado por episódio obscuro no passado relacionado à sua tia – e esclarecido no final do filme – e que lhe rendeu transtornos mentais. Em uma série de cartas endereçadas a um leitor que não é nomeado, ele relata suas dificuldades para interagir com os novos colegas, o “bullying” dos alunos veteranos, seu acolhimento no grupo de outros “outsiders”, mais velhos: o homossexual Patrick (Ezra Miiler), a desajustada Sam (Emma Watson), por quem se apaixona – e quem, quando jovem, nunca sonhou em encontrar uma garota igual a ela?– e seu professor de literatura, Mr. Anderson (Paul Rudd). Charlie torna-se imperceptível à maioria dos colegas; descobre as vantagens de sê-lo num ambiente costurado por aqueles que o resgatam de suas inseguranças e tristezas.

O filme “As vantagens de ser invisível” (2012) tem a vantagem de evidenciar temas caros à adolescência (conformismo, sexualidade, primeiros amores, amizade, timidez) sem caricaturá-los, como se fosse cúmplice, e mostrar como se pode enfrentá-los com o auxílio de um abraço acolhedor e de uma canção que diz que “podemos ser heróis, ao menos por um dia” (David Bowie, “Heroes”).

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