De pé, então, no meio do Areópago, Paulo falou:
“Cidadãos atenienses! Vejo que, sob todos os aspectos, sois os mais religiosos dos homens. Pois, percorrendo a vossa cidade e observando os vossos monumentos sagrados, encontrei até um altar com a inscrição: ‘Ao Deus desconhecido’. Ora bem, o que adorais sem conhecer, isto venho eu anunciar-vos”.
Atos dos Apóstolos 17,22-23
“Before sowing the Word, one looks for semina verbi (seeds of the word) already present among the people one seeks to evangelize. The wager is that, once these are uncovered, the Word of Christ will not seem so strange or alien. In the best case, a nonbeliever might come to see that he had, in fact, been worshipping Christ all along, though under the guise of an Unknown God”. (Antes de semear a Palavra, devemos procurar pelas sementes da Palavra. A aposta é que, uma vez descobertas, as Palavras de Cristo não soarão tão estranhas ou esquisitas. Na melhor das hipóteses, um descrente poderá perceber que, na verdade, tem adorado a Cristo há muito tempo, sob a aparência de um Deus Desconhecido)
Seeds of the Word – finding God in the culture, Robert Barron
“A menos que trabalhemos para a renovação da cultura, participando na vida da arte em nosso próprio tempo, vamos assistir à invasão dos bárbaros entrando por portas que nós mesmos demolimos”.
A beleza salvará o mundo, Gregory Wolfe
Mal imaginam que, como gêmeos siameses, conservadores e progressistas mantém uma relação umbilical no menosprezo à cultura pop. Isso ocorreu porque tais disposições, ao ignorar tanto a dimensão da arte que busca o ordenamento da existência quanto seu poder para educar a imaginação, que “nos convoca a deixar nossa personalidade para trás e, temporariamente, vivenciar uma experiência alheia, olhar o mundo com novos olhos” (Gregory Wolfe), instrumentalizaram-na para fins políticos: para a turma à Direita, só a alta cultura importa, porque é ela quem torna seus consumidores seres morais melhores (para não dizer superiores); à Esquerda, só a alta cultura importa porque capacita seus consumidores a pensar por conta própria e concretiza efetivamente a liberdade do oprimido sobre o opressor, esse produtor mecânico de cultura – em outras palavras, somente a alta cultura desafia o status quo. Esse ponto em comum, esse olhar enviesado para a cultura de nossa época, resulta de uma postura elitista e arrogante que acomete todo o espectro político: consumidores de cultura pop são massas que aceitam, indiscriminadamente, tudo aquilo que lhes é fornecido pelas indústrias fono e cinematográficas; consumidores de cultura pop são incapazes de distinguir entre a “boa” e a má” cultura; em resumo, são incapazes de fazer escolhas. Curioso que tanto a esquerda quanto a direita, sob tal ponto de vista, também se encontram na encruzilhada resultante dessa perspectiva: consumidores de cultura pop precisam, não de críticos capazes de desvelar a beleza e as verdades que podem ser encontradas em muitos produtos artísticos, mas de tutores que lhes digam qual a verdadeira arte capaz de redimir. A boa arte, seja qual for, é aquela capaz de articular a abertura à transcendência, e não aquela que se torna ela mesma a Transcendência. Precisamos olhar a cultura pop com olhos caridosos porque se trata da cultura de nossa época; precisamos separar o joio do trigo e não entregar o joio e o trigo para os bárbaros. Como todos os grandes artistas, os de nossa época podem nos ajudar a “descobrir um caminho redentor em direção `a ordem”, especialmente nesta “Babel fragmentada” em antagonismos que vivemos.
Nesta excelente palestra, realizada em Sorocaba – SP no dia 12 de março, no Mosteiro São Bento, Dionisius Amendola (https://preconceitosdiletantes.wordpress.com/) mostra que a cultura pop não é nem o lodo de relativismo democrático em que tudo importa, nem a lama de futilidades em que nada importa. Aqueles que menosprezam a cultura de nossa época o fazem porque desconhecem completamente o assunto do qual estão a falar.
Bunker do Dio: https://www.youtube.com/channel/UCtIjkxaomS0hqKEzO4PAfTA